Os portugueses não costumam achar grande piada às bandas de tributo. Pelo menos a julgar pelos últimos espectáculos do género que por cá têm passado, alguns mesmo cancelados por falta de adesão do público.
Mas quando o tributo inclui dois dos membros fundadores e um vocalista de luxo, a história é bem diferente. Robby Krieger e Ray Manzarek, guitarrista e teclista, respectivamente, dos Doors, trouxeram de novo consigo o vocalista dos The Cult, Ian Astbury, para celebrar os 40 anos sobre a edição do primeiro álbum de uma das bandas mais marcantes de sempre.
Os Riders On The Storm, impedidos desde há uns anos pelo antigo baterista John Densmore de utilizar o nome oficial The Doors, regressaram a Lisboa para um concerto no Coliseu dos Recreios com lotação esgotada. O cruzamento de gerações entre o público mostrou que a obra e o legado deixados pela banda continuam bem vivos, mesmo mais de três décadas após a morte de Jim Morrison.
E foi talvez sobre a figura do vocalista dos Riders On The Storm que se centraram grande parte das atenções, tal era a curiosidade em relação à transformação de Astbury em Morrison. A barba por fazer, o cabelo desgrenhado, as botas e o casaco de cabedal pretos, os óculos escuros, a voz carregada de soul... a imitação roçou a perfeição, não esquecendo algumas poses e tiques próprios do malogrado cantor.
Os primeiros temas da noite, "Roadhouse Blues" e "Break On Through (To The Other Side)" revelaram que os sexagenários Krieger e Manzarek continuam a tocar os seus instrumentos como se tivessem 20 anos. E no caso do teclista dos Doors, até o seu pé serviu de terceira mão em várias ocasiões, fazendo as delícias do público.
Com "When The Music's Over" veio também uma bela surpresa para meia dúzia de raparigas que se encontravam na assistência e que foram convidadas a aproximarem-se do palco. Para além de terem passado o resto do concerto a poucos metros de Astbury e companhia, receberam mais tarde passes para conhecer melhor a banda após o fim do espectáculo.
A primeira dedicatória da noite foi para... George W. Bush, com "Five To One". Ray Manzarek pediu desculpa pelo seu país ter elegido um «presidente louco» e apelou à paz no mundo: «Make love, not war!».
James Brown foi também recordado. Manzarek dedicou "Touch Me" ao «Sex Machine» e «pai da música soul», falecido recentemente.
Para o encore ficou guardado um dos maiores hits dos Doors. "Light My Fire" incendiou mais uma vez os ânimos na plateia, mas infelizmente não só pelas melhores razões. Ao mesmo tempo que a maioria dos presentes dançava ao som dos solos de Manzarek e Krieger, um segurança excessivamente zeloso entrou em confronto directo com um fã mais exaltado. Uma situação no mínimo infeliz num concerto que até então estava a decorrer sem quaisquer problemas. |
